domingo, 21 de novembro de 2010

Noites de veraneio


Deixou o copo com gelo sobre a mesa, rondando o vidro com os dedos finos. Faltava-lhe ar, ânimo e ternura.

Gostava de auto-denominar uma pedra que sofria alterações do vento, da água e dos animais, porque gostava de dias chuvosos com vento e gostava do toque suave das mãos e corpo de uma mulher.

Havia A Mulher, é claro: branca, de cabelos até os ombros, castanhos como seus olhos grandes. De silhueta esguia e sorriso tímido, mas com a força de um leão. No entanto, ele sabia que, embora ela o abraçasse com força enquanto ele se desfazia em ressaca de dias secos e mortos, auto-destruição e agressividade, dissesse baixinho que o amava e que não o deixaria, acabava escondida no banheiro, chorando encolhida por se sentir fraca e insuficiente.

Ele ouvia tudo do quarto, enquanto fingia dormir. A verdade é que não dormia a meses, e suas olheiras se tornavam cada vez mais profundas, assim como sua amargura. A insônia era sua melhor amante.

Então ela voltava e se deitava a seu lado, cansada de tanto chorar. Passava a mão pelos cabelos sedosos dele, mas que quase não tinham mais brilho, e ficava dizendo a si mesma que viveria de amor.

Estava tão enganada.

domingo, 14 de novembro de 2010

Nunca estive tanto com 16 anos


E eu sempre me encarei como algo meio fora da idade que me encontrava, hoje me sinto tanto como mais uma das meninas de 16 anos, comuns.

E como eu queria estar lá pelos meus 25 com o fardo da independência e toda a dor de uma vida adulta... mas não tem como. Eu trocaria toda essa vida boa de mãe que cozinha pra mim e alguém pra me aconselhar a vestir um casaco antes de sair por um pouco mais de esclarecimento e maturidade.

Nunca me senti tão infantil. Eu queria tanto crescer. Queria tanto fazer parte de um outro mundo. Queria viver num lugar onde eu conseguisse me olhar no espelho e dizer com certeza se vou pra rua da direita ou da esquerda.

Não sei como se atinge esse nirvana, ou mesmo se ele pode ser alcançado. Só sei que saber da minha idade, e senti-la na flor da pele, dos ossos, dos hormônios e das lágrimas que, quando engolidas, me deixam com um olhar amargo, mas quando que escorrem pelas bochechas me deixam frágil demais. 8 ou 80.

Cansada. Cansada de ser eu mesma. Queria só mudar. Mudar de vida, de família, de corpo e talvez, pra um coração um pouco mais firme.

Preciso parar de postar textos tão pessoais aqui. Mas o problema é que estou enjoada também do meu jeito de escrever.

Acho que acabei enjoando de mim mesma.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Terça-feira de manhã


Passei as fotos diante de meus olhos, uma por uma. Mostravam cenas de seis meses atrás, de um ano. Mais de 365 dias tinham se passado, e eu já não poderia ser mais a mesma. Estava diferente: meu cabelo, minhas bochechas, meus olhos e minhas expressões agora eram mais velhas. Em apenas um ano. É claro que por dentro, minha imaginação e criatividade me lideravam para novas experiências e o esquecimento do passado, enquanto, aos poucos, ia encontrando uma nova personagem que chamaria de "Mim Mesma".

Era inevitável suspirar e lembrar de tudo aquilo. Dos risos, lágrimas e dos cliques da câmera. Com o tempo, eu acabei deixando os cliques e os risos para trás, passando só a me lembrar das lágrimas que caíram e de todos os gritos de ajuda que eu tinha engolido e sufocado. Só me lembrava do meu cansaço e das palavras que me feriram.

Claro que não era o mais saudável. Preferia muito mais lembrar das coisas boas e não ter esse sentimento ruim dentro de mim: poderia deitar toda noite com menos um peso no coração e muito mais aceitação das coisas da vida. Mas pelo menos agora, eu entendo os motivos e os porquês.

Não chamo de crescimento. Crescimento seria saber ponderar as duas coisas e não precisar selecionar todas as fotos, pressionando no teclado do computador, a tecla "Del".

As fotos sumiram da tela brilhante. Os dois rostos, o meu e o dele, iam ficando cada vez mais embaçados em minha memória. Nada mais justo, afinal, nenhum de nós éramos mais aqueles dois.