domingo, 21 de novembro de 2010
Noites de veraneio
Deixou o copo com gelo sobre a mesa, rondando o vidro com os dedos finos. Faltava-lhe ar, ânimo e ternura.
Gostava de auto-denominar uma pedra que sofria alterações do vento, da água e dos animais, porque gostava de dias chuvosos com vento e gostava do toque suave das mãos e corpo de uma mulher.
Havia A Mulher, é claro: branca, de cabelos até os ombros, castanhos como seus olhos grandes. De silhueta esguia e sorriso tímido, mas com a força de um leão. No entanto, ele sabia que, embora ela o abraçasse com força enquanto ele se desfazia em ressaca de dias secos e mortos, auto-destruição e agressividade, dissesse baixinho que o amava e que não o deixaria, acabava escondida no banheiro, chorando encolhida por se sentir fraca e insuficiente.
Ele ouvia tudo do quarto, enquanto fingia dormir. A verdade é que não dormia a meses, e suas olheiras se tornavam cada vez mais profundas, assim como sua amargura. A insônia era sua melhor amante.
Então ela voltava e se deitava a seu lado, cansada de tanto chorar. Passava a mão pelos cabelos sedosos dele, mas que quase não tinham mais brilho, e ficava dizendo a si mesma que viveria de amor.
Estava tão enganada.
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