domingo, 31 de outubro de 2010

Anda tudo muito tenso



As coisas vão mudando, e eu percebo com olhos assustados. Acho que to ficando meio antiquada, meio fora de moda.

Não é uma revolta sobre gente colorida ou sobre política. É só que eu não consigo ver as coisas mudarem ao meu redor sem ficar com medo.

Eu não consigo diferenciar uma mudança natural de uma mudança ruim por algum motivo aterrorizante. Então fico em pânico, com um choro engolido na garganta e aquele olhar de "o que está acontecendo?".

Acho que tenho medo de ficar pra trás enquanto as coisas mudam, enquanto as pessoas mudam e eu permaneço aqui, com 16 anos, cabeça de sei lá quantos e esse espírito de gente cansada. Sem esse tom sábio de quem já sofreu, mas com o coração ainda meio machucado dos tombos que a gente leva por essa idade. Eu só não sou sábia e tenho medo demais.

Medo de que? Ficar sozinha, talvez. De perder. De muitas vezes, perder o que sequer me pertence, mas o maior medo ainda é de perder o que eu tenho certeza que é meu. Porque o que acontece quando a segurança se quebra é apenas isso: se quebrar junto.

E enquanto todo mundo muda nesse ritmo de fim de ano, tudo que eu sei fazer é pensar em como elas vão ficando mais diferentes e eu também, só que de um jeito meio melancólico. Queria saber o que me aflinge.

E nessa minha mania de ficar com medo, de querer me esconder, de não gostar de mim mesma, to ficando enjoada de mim. To ficando cansada de me olhar no espelho todo dia, de ouvir minhas palavras ditas sem pensar (até digitadas sem pensar) e de me ouvir reclamar e de me suportar sempre. Essa nuvem de poeira ao meu redor tem que passar, porque eu não to mais me aguentando: quero que fique tudo bem. E eu me repito isso, que vai passar, que vai ficar tudo bem, que eu vou voltar a gargalhar por nada e que é tudo normal.

Mas a pergunta é, quando?

terça-feira, 19 de outubro de 2010

A mulher dos cabelos de prata - o primeiro


Marcelo parou na frente do prédio, tirando um cigarro do bolso e acendendo, enquanto se escorava na parede. Já era o sexto da manhã, e ia sendo tragado rapidamente. Tinha tentado escolher sua melhor roupa casual, sem saber que impressão realmente queria causar, e acabou se decidindo por uma camiseta do Deep Purple e seus jeans habituais. Se sentia meio adolescente assim, de forma que suas mãos suadas passavam por seu cabelo com apreensão, que cheirava a xampu e neblina matinal.

Deus, ele estava apavorado, como queria voltar para seu apartamento.

Fazia um dia nublado. Nenhum raio de sol atravessava o cobertor de nuvens acima de sua cabeça, ao que Marcelo era muito agradecido, pois não seria cegado ao ver o sol se refletir nos cabelo loiros dela; Achava que desmaiaria se visse algo assim tão de perto.

Brincava com seu isqueiro azul na mão quando ela apareceu na esquina, sem aquela porta atrapalhando a visão. Mais bonita do que nunca, mais bonita que qualquer droga de mulher.

Quase que se passava como um filme: ela, como sempre, a atriz principal, que caminhava devagar sob os grandes holofotes que eram os olhos de seu admirador, pisando leve, cantando baixo e, pasme, sorrindo. Ele derretia com o desejo de pegá-la pela mão e levá-la a seu apartamento, onde não faria nada além de mostrar-lhe seus livros e discos e observá-la incansavelmente.

A mulher dos cabelos de prata alargou um pouco seu sorriso frio, olhando para Marcelo. Ele apenas observou os fios brilhantes que desciam trançados pelos seus ombros, seios e cintura. Sem nome, ela se vestia em tons pastéis que se misturavam com o cenário monocromático da rua, sem perder seu destaque.

Alguns segundos e ela já subia as escadas sem ruído (que eram feitas de mógno escuro que já se tornavam quase algo simbólico para Marcelo), e como sempre, ela ela não derrubou seu café da manhã ou tropeçou, e ele não conseguia imaginá-la fazendo isso.

Enquanto seu coração refazia os batimentos normais, o rapaz acendeu o sétimo cigarro matinal, fechando os olhos e sorrindo, esperando que a agonia de todos os dias o atacasse: por que não falo com ela?

Só conseguia pensar na mulher dos cabelos de prata e no café que o esperava lá em cima, enquanto uma música ecoava meio distante, falando sobre esses amores que não sobem as escadas e permanecem no anonimato. Marcelo achou tudo muito bonito e poético, mas estava ocupado demais concluindo que sua vizinha tinha cheiro de baunilha.

Love will tear us apart


A grande verdade é que a maioria das escritoras começa falando de um amor. Seja um amor bom ou ruim, sofredor ou não. Começam falando do aperto no peito e de como dói esperar que o cara te olhasse ou que ele ao menos tivesse ligado no dia seguinte. Ou que ele ao menos não tivesse namorada, ou que não tivesse durado apenas aqueles 15 dias de férias.

É sempre o mesmo universo de dor, olhos brilhantes e essa paixão que acaba sempre passando.

Maior verdade ainda, é que as grandes escritoras são as que aprendem a tratar de outros assuntos com a mesma perícia que tratam as palavras de amor.



(Carol está muito bobinha esses dias.)

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Ampulheta horizontal


Ela levou suas roupas para a secadora, mecanicamente. Sua cabeça estava presa na cama do quarto, onde ele dormia.

Enquanto as calças e camisas giravam na sua frente, seu corpo girava na direção do quarto de paredes brancas e pinturas abstratas, onde um rapaz de olhos fechados e cabelos claros respirava fundo e devagar. Lá fora, a secadora zumbia, sem fazer com que ele se mexesse um centímetro sequer.

A noite tinha sido levada aos trancos e solavancos de sexo passional e olhares de ternura. É claro que para ela não era o suficiente. Sempre sentia na camisa dele um cheiro diferente que ela suspeitava ser de mulher e depois dos orgasmos seu amor sempre mantinha os olhos meio vidrados. Não, não eram suficientes as palavras doces, o carinho e aquela cara inocente ao dormir.

É claro que mantinha silêncio, mas sofria por dentro enquanto o observava e sentia o medo a corromper.

Mal sabia que não se passava de artimanhas de uma cabeça perturbada pela insegurança. O medo a deixava incapaz de se contentar com o que ele oferecia. Sempre queria mais, corpo e alma jamais seriam suficientes.

Não entendia de onde vinha o medo, mas desconfiava desde a hora em que ele aparecia, até a hora em que saia, os cheiros, gostos, reações e olhares. Sempre monitorava, instintivamente, enquanto engolia as perguntas e a deixava ser engolida por promessas de amor que não pareciam verdadeiras a seus ouvidos.

Mas eram tão verdadeiras quanto o sono que o deixava inerte na cama.

A dor a cortava em inúmeros pedacinhos todos os dias. A ansiedade, a vontade de ser suficientemente bonita, suficientemente inteligente, suficientemente mulher. E nunca se sentir apta o bastante, sempre à sombra de alguém que sequer existia.

Ela deitou na cama, bem ao lado dele, e, ainda adormecido, o rapaz colocou um braço ao redor da cintura dela. Respirando fundo, sentiu o cheiro de um perfume doce, e lágrimas banharam seus olhos.

Estava tão cega que não percebeu que aquele era seu próprio cheiro.

Tão só quanto o silêncio do sol maior


Não havia jogadores de xadrez nas praças, nem tocadores de violão com suas vozes desafinadas. Havia apenas o vento fétido que balançava as folhas das árvores caídas, já secas da estação. Era um silêncio puro que se arrastava por horas infindáveis, sendo quebrado apenas pela luz da lua e das estrelas, que anunciavam um novo começo.

Eu não me incomodava com a situação: pessoalmente, preferia ficar sozinho e sem o som daquela humanidade quase tão podre quanto o cão morto distante apenas alguns bancos de mim. Sem o som das crianças que brincam, dos velhos que jogam cartas e das lamurias de mães solteiras, me sentia em paz comigo mesmo. Conseguia pensar nos anos que passaram rápido demais, nas pessoas que disseram adeus e todo o sangue que banhara minhas mãos.

Apesar de tudo, não me sentia sujo. O calor, a monotonia e a luz do sábado a tarde me traziam a glória dos homens comuns.

Mas como já disse, tudo se esvaía, apenas com o pôr-do-sol.

sábado, 16 de outubro de 2010

Não escrevo pra cortar os pulsos


Não vejo mais graça naquilo que me enfraquece. Não vejo mais beleza nessa tristeza egoísta de revolucionário de cadeira que está descontente com o sistema. Nesses bares que passam bêbados tristes com sua mulher e seus filhos esperando-o em casa, um sonho americano perdido em meio a mentes quebradas, porque... por que mesmo? Nem ele mesmo sabe.
E nisso, só vejo uma beleza estética da fumaça de cigarro que se esvai, nas luzes que piscam, e nas olheiras.

Porque agora, eu gosto mesmo é de um sorriso.

Sem computador, quase sem vida. Porém...


Fiquei alguns meses sem computador. A Dell me enrolou bastante até que eu conseguisse enviar meu notebook pelo correio, pra assistência técnica. Memória trocada, problema resolvido! Sequer perdi meus dados.

Bom, não escondo que sou realmente viciada em internet (ou era?). Afinal não é comum uma garota conseguir ficar 15 horas na frente do pc sem fazer nada realmente útil ou que garanta algum entretenimento. Como sobrevivi? Saí bastante, estudei mais, fiz as lições de casa (quase todas, juro), li livros ótimos e assisti alguns filmes. Dormi mais cedo.

Ganhei muito com isso: algumas notas aumentaram e meu humor melhorou. Resolvi algumas situações estranhas com uma amiga. Acho que ganhei um pouco de peso também, mas começo uma dieta na segunda e estou meio que me despedindo do mundo haha. Comendo demais. Enfim.

Perdi algumas coisas também. Fiquei desatualizada das notícias, das eleições, das fofocas das interwebs. Desatualizei o blog e minhas fotos. Também fiquei longe dos amigos e colegas daqui. Senti falta de todo mundo, e meus amigos e namorado sabem o quanto eu falei da saudade que eu sinto das pessoas que eu amo tanto, mas que moram tão longe de mim. E isso foi o mais difícil desses dias.

O "isolamento" também foi bom pra pensar na vida. Muitas vezes pensar me faz mais mal do que bem, mas isso é porque eu não penso direito, eu acho (oi?). As coisas que me doíam e que agora não doem mais, ainda batem na minha porta, e sei lá viu, cada dia eu arranjo mais alguma coisa pra me perturbar.

Mas tudo bem. Tá tudo bem.