domingo, 18 de julho de 2010

Algo como cafeína


A fumaça da bebida deixou o ambiente com cheiro de energia. Enquanto seu tom claro se misturava com o cinza da janela, o rapaz à sua frente mexia seu café com calma e olhos baixos.

O dia contava histórias de amores melancólicos, tendo sido descolorido pelo inverno e pela ausência do sol: estava agradável para ficar ou sair de casa e, sendo apreciadora de dias bonitos como aquele, decidiu sair para fotografar.

A companhia dele fora uma surpresa que lhe trouxe borboletas ao estômago e a sensação de ter se tornado extremamente pequena. Era amargo e doce ao mesmo tempo, e a deixava ligada: ele mesmo era um pouco frenético.

Sentia vontade de pegar a câmera e fotografa-lo enquanto ele fazia o açúcar derreter com mãos calmas e olhos que enquadrinhavam o ambiente, sem parar. Aqueles olhos atentos de cílios longos iriam se destacar numa p&b, pensou. De qualquer forma, não disse nada; O silêncio era constrangido e adequado, então eles deixaram que o rock e as conversas nas mesas próximas enchessem seus ouvidos.

Ela tomou um gole do seu café, sentindo o líquido amargo se misturar com sua saliva e seu ser, também um pouco amargo: era quente e escorreu pela garganta, enquanto ela gentilmente o encarava, sem ser encarada de volta. Na janela ao lado deles, um pássaro amarelo e preto bicou o vidro, chamando a atenção dos dois com um barulho agudo e oco. Sua mente treinada capturou o momento na câmera, com o apertar de um botão e rapidez.

Quando o pássaro voou para longe, os olhos dele se viraram e encararam o dela, pela primeira vez desde que estavam tomando café, junto a um sorriso. Por dentro ela sentiu o amargo e o doce se fundirem e derreterem, junto com seus lábios, que se desmancharam numa expressão boba e sorridente.

Desconsertada, comentou:

"Não ficou muito boa..."

E ele disse, ainda sorrindo:

"É claro que ficou."

Um comentário:

  1. momentos avida sempre momento quem nota vive mais de quem não percebe o que esta asua volta

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