terça-feira, 15 de junho de 2010

Comi e amei


A garotinha segurou o bolinho e deu a primeira mordida, quase o deixando cair com suas mãos pequenas. O nariz dela ficou coberto de creme azul, enquanto ela mordia os confeitos com vontade.

Sua mãe colocou o cabelo preto dela atrás de sua orelha, impedindo que ele caísse no cupcake, com cuidado. Os olhos verdes da menina revelavam sutilmente sua alegria: pedira pelo doce a tarde inteira e ficara correndo pela casa, enquanto sentia o cheiro de baunilha impregnar os cômodos.

A luz do sol que se punha banhava a cozinha suja de farinha. A mãe, sorrindo de leve, deu uma leve mordida em seu próprio bolinho, enquanto tirava um pouco de farinha do avental. Quando sua filha terminou de comer, ela lhe deu um copo de leite; a pequena deixou que um bigode branco se formasse, antes de abraçar a mãe e agradecer pela guloseima.

Aqueles olhos cor de árvore não a pertenciam: eram da família do pai. Lembrando-se do romance, sua mãe terminou de colocar a louça suja na pia, com certa nostalgia. Pegou uma caneca suja de chocolate quente a observou, deixando as lembranças inundarem sua mente.

Sorriu, meio abobalhada. Risos ecoaram internamente, onde se lembrava de tudo: coisas boas e ruins, entrelaçadas.

A menina voltou correndo, com um desenho e uma flor. Tratava-se de um crisântemo vermelho, arrancado do jardim do qual as duas cuidavam juntas quase todos os dias. Ela veio sorrindo, abraçou a mãe e lhe entregou a flor: a mulher a beijou no rosto, pegando o desenho de sua mão. Uma figura distorcida e colorida, com um avental dava a mão para uma menininha exageradamente pequena, que estava com o rosto torto todo sujo.

Abraçando a filha, percebeu que aquilo era suficiente. É, era mais que suficiente.

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