sexta-feira, 11 de junho de 2010

Divagando assuntos irrelevantes


Ligo a TV durante a tarde e sento na cama para assistir Vídeo Show, na Rede Globo. Não é um dos meus programas favoritos, mas me diverte de certa forma. Afinal, não tinha nada para fazer, e nas ocasiões de extremo ócio nos permitimos ter atividades estranhas.

Rostos conhecidos passam aqui e ali, e, leiga no assunto televisão, me sinto de certa forma perdida no meio de tantas celebridades, atores, cantores, apresentadores e gente aparentemente carismática.

De repente, ouço gritos vindos da TV. Me esforço para entender e vejo um rosto muito conhecidos entre as meninas da minha idade, e que vejo sempre nas bancas de revista pelas ruas. Um rapaz jovem, claramente mais velho que eu e, pasme, ator. Sem expressão, camisa em v, cabelo comprido, preto e bagunçado, barba por fazer. Seu nome é Fiuk. Os gritos são de suas fãs.

A equipe de reportagem do Vídeo Show o acompanha durante uma noite, numa apresentação. Nele, meninas se espremem nas grades, choram e gritam enquanto no palco o jovem faz um playback com cara de bobo alegre.

Percebe-se claramente que as músicas mais famosas são a abertura da novela Malhação, uma outra que não me recordo o nome e as regravações dos sucessos de seu pai Fábio Jr., como "Só Você". Um sucesso meio esquecido entre as senhoras de idade, Fábio Jr. é conhecido como um homem sedutor e autor do "brigadú". Sem me esforçar muito, percebo que ser bonito é a única característica marcante no cantor Fiuk. Não herdou a voz do pai, e sim, a fama de garanhão.

Eu não preciso conhecer mais músicas dele para afirmar isso. Já assisti Malhação e ele é um ator mediano, completamente sem expressão e interpreta um personagem que tem fama de ser "o mais gatinho da escola". E convenhamos, cantores de verdade não fazem playback em shows, sem discussão.

Não me surpreende a quantidade de fãs que ele possui, e nem a histeria delas. Todos os fãs costumam se emocionar ao ver o ídolo e entrarem de certa forma em pânico, gritar, chorar, espernear, etc. Mas eu afirmo, com absolutamente toda a certeza que me convém, que se trata apenas da beleza do cantor. Não são as músicas ou a presença de palco, ou a técnica vocal. Porque são músicas que, inicialmente, não são sequer da autoria de Fiuk, e, as que são, tratam-se do clássico "música-chiclete", que atende ao gosto da massa, em especial a feminina. O que as encanta é muito menos o carisma inexistente em Fiuk.

Claro que gosto não se discute. Existem pessoas que realmente só gostam de músicas-chiclete cantadas por um garoto bonitinho. Mas será que isso é mesmo gostar? Acredito que o gostar é algo que persiste, é respeito e compreensão com o ídolo. É ver as falhas; é parar e dizer "O Fiuk é bonito, mas ao vivo não canta nada e nem sabe atuar." É admitir, sem frescura. Infelizmente, não é o caso da paixão das fãs de Fiuk e outros fenômenos musicais e artísticos que surgem atualmente. São cegas: querem apenas amar e morrer pelos ídolos que muitas vezes são tão vazios de exemplos e ideais quanto uma criança de 5 anos.

Quando o padrão de beleza for meninos de moicano e bermuda de surfista, os cantores vão aparecer assim. Quando o ritmo do momento for pagode, os vocalistas das novas bandas serão pagodeiros, terão moicano e bermudas de surfistas. E as bandas antigas vão mudar aquilo que eram para seguir esse padrão. E as meninas que antes gostavam de um cara de cabelo comprido, músico, com roupas coloridas, vão amar esses pagodeiros.

Na minha cabeça, uma frase ecoa. Falta de personalidade.
O motivo? Dinheiro, fama, sucesso. Ou medo de rejeição. Todos sabem a cara que as pessoas fazem que se assume que é metaleiro ou gótico (assumindo estilos que não chegaram ao ranking de modismos). Há uma desaprovação enorme perante aquilo que a massa não admite. Nossa sociedade ainda é muito mente fechada, e é por isso, por exemplo, que o cenário musical brasileiro atual anda tão entediante. É tudo igual, a mesma coisa: os jovens não fazem um som diferente, mal dá para diferenciar uma banda da outra.

Falo de bandas e cantores porque tomei Fiuk como um exemplo dessa indústria capitalista. Mas pode-se observar isso no vestuário, nos filmes, nos lugares onde frequentamos. Eu por exemplo, odeio frequentar barzinhos, acho chato: sou taxada de boba por isso. As pessoas seguem aquilo que a massa faz, não porque gostam, mas porque se rejeitarem, serão crucificadas. São determinadas, se acostumam a gostar daquilo e criam a ilusão de que realmente gostam, quando na verdade não passa de um estranho brainwash. Ser diferente dá trabalho.

Obviamente, quando Fiuk ou Banda Hori não forem mais uma moda adolescente, algumas meninas e meninos ainda vão ter amor por ele. Mas todos sabemos que serão poucos e que, mesmo assim, não será duradouro. Os gostos mudam, porque nossas mentes mudam quando crescemos. Você não vai gostar daqui dez anos das músicas que gosta hoje, principalmente se você é fã de Fiuk agora, mas já foi fã de NxZero, Fresno e Britney Spears. Isso quer dizer que provavelmente segue esses modismos. Se você não mudar isso, vai gostar daquilo que tocar nas rádios de 2020. Se mudar, vai gostar de algo, e esse algo vai parar de tocar nas rádios, mas ainda vai haver um carinho especial dentro de você, e tudo mais. Não vou discutir o que faz um fã de verdade.

Claro que escrevo sob um desgosto pessoal: não vejo graça no Hevo84 ou nas outras bandas da moda atual. O ponto não é a qualidade musical deles, e sim aquilo que os trazem à frente de tantos outros que cantam melhor, que tocam melhor, que ralaram muito mais. É muito mais fácil contratar um estilista e um cabeleireiro e te transformar naquilo que as pessoas querem ver (não ouvir: a música é provavelmente o fator de menor importância), do que fazer um som original, que você realmente gosta, que passa alguma droga de mensagem. É o caminho mais fácil não para ter uma banda, ou ser músico, ou receber cinco estrelas na Rolling Stones: é o caminho mais fácil para ganhar dinheiro e ser assediado simplesmente porque fala de amor e é bonitinho, tornando-se apenas um ícone comercial.

Um comentário:

  1. Falou tudo e mais um pouco. Perfeito, muitas pessoas precisam ler isso.
    É ótimo contar com alguém que pensa da mesma forma :D
    leia-se (que não é ignorante).
    Acredite que estava eu e minhas amigas conversando sobre Fiuk e quando nós dizemos que ele não era bom cantor, nem ator, (nem bonito), as meninas de um grupinho lá pararam e ficaram olhando pra gente. RIDÍCULO, mas quer saber? ADOREI a expressão delas...

    bjs.

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