quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Parágrafos suicidas


Era difícil pensar com o calor do verão. Por menos roupa que vestisse, sentia-se enfiado dentro de uma sauna com sol. A tropicalidade brasileira, tão admirada no exterior, tornou-se uma tortura para aqueles que preferem não serem picados por mosquitos e não precisar tomar seis banhos por dia.

Difícil era se concentrar no trabalho de redator de cidade pequena e coberta por minério de ferro, onde seus moradores enfadonhos não pareciam ser nem um pouco resistentes. Permaneciam forte diante a impunidade, a violência e toda a escória que via chegar às suas mãos no escritório, mas tão sensíveis que as taxas de suicídio anuais alcançavam os maiores do país.

Não que houvessem muitos lugares de onde se jogar.

Seu trabalho era cansativo e chato. Amava ser jornalista, mas preferia trabalhar com algo mais interessante ao invés de um jornal tendencioso. De dedos afiados para que as letras brilhassem no monitor da máquina antiga à sua frente, seu senso crítico era muito utilizado no trabalho. O grande problema era que, por mais que tivesse uma forte opinião própria e soubesse se expressar, odiava fazer aquelas matérias tendenciosas que eram amassadas e largadas no chão por gente que não percebia o grande erro de concordância logo na manchete.

Lhe dava até nojo, mas engolia porque o salário era razoável.

Seus sonhos eram realizados aqui e ali em compras de internet, mas não se pode comprar uma nova cidade para se morar: era preciso ter um emprego nessa nova cidade, e era óbvio que ninguém se interessaria por um bom jornalista enquanto ele se submetesse a fazer textos simplórios e cheios de intenções tendenciosas.

Se esticou na cadeira dura, puxando os braços para trás, enquanto mexia o rosto para que o mosquito que tinha pousado ali fizesse o favor de sair. Fitou com preguiça a tela branca e a barra piscando, esperando mais palavras.

"(...) espera-se que, influenciado por seus adoráveis colegas de plenário, o senhor prefeito encerre as obras de fim de mandato, que, como já foi visto por cada um de nossos cidadãos, são intervenções desnecessárias em pontos estratégicos. A rede pública municipal carece, assim como a saúde, de um enfoque que em dois anos de mandato, ainda não foi dado de forma adequada (...)"

Tão chato e repetitivo. Não era novidade para ninguém o que se via pela cidade, e ele queria algo mais. Queria não somente informar, mas partilhar com as pessoas que lessem aquilo que escrevia.

Benjamin gostava de livros e música. Via poucos filmes e quase não assistia televisão. Adoraria resenhar livros ou cd's, mas sabia que tinham milhares almejando o mesmo, então ia começando por baixo, estudara ciência política e social enquanto ainda estava na faculdade e tentava aprender o máximo possível sobre aquilo que gostava em meio a muito suco de abacaxi e caixas de amendoim torrado.

Se sentia miseravelmente grande para o lugar, limitado como uma bexiga numa caixa de vidro, que ia ficando cheia de conhecimento, ambição e criatividade, perto de explodir.

Enquanto os dias quentes de dezembro passavam, salpicadas de noites mal dormidas e iluminação natalina, Benjamin ficava cada vez mais perto de um colapso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário